terça-feira, 11 de outubro de 2011

Uma Palhinha do Submundo


Olá pessoal, este é o texto inicial de um livro que eu havia começado a escrever e recentemente fui convencido a não desistir da idéia. O título que eu pretendo dar ao livro quando estiver pronto é Ética do Submundo e esse é o primeiro capítulo na íntegra, chamado Dos Modos do Submundo. Enfim, ei-lo:
Uma vez ciente de que, mesmo com esses olhos capazes de obter uma visão razoável mesmo nessas profundas trevas, nunca posso ter por verdade tudo o que é apreendido apenas pela visão, tampouco, mesmo dispondo de uma audição excepcional, confiar em qualquer sensação apreendida apenas por ela, por motivos óbvios, a saber, o fato das trevas serem a ferramenta mais apropriada para que nossas mentes, local ao qual são enviadas todas as informações dos nossos sentidos, possam se mostrar cada vez mais ardilosas até mesmo contra nós, é necessário sempre estar atento a tantos sentidos quanto possíveis sem dispensar sequer aqueles mais abstratos como a intuição e a imaginação.
Assim, o submundo se mostra a cada um de nós com extrema distinção e particularidade, parecendo mais escuro e assustador aos menos acostumados. Por outro lado, aqueles que já se acostumaram com o submundo, só o percebem menos escuro pelo fato de terem calejado seus olhos e sua imaginação com as mais freqüentes sensações, privando-se das infinitas possibilidades de sensações que o submundo oferece.
A maior vantagem em se acostumar com o submundo, enfim, está no contato direto com os não acostumados. As infinitas possibilidades de sensações cegam os não acostumados por ainda serem incapazes de ignorá-las, enquanto um indivíduo já acostumado com as trevas, se astuto, foca sua atenção ao submundo e às suas possibilidades de sensações quando lhe for conveniente, ou foca sua atenção em planejar e executar o mal aos demais indivíduos quando esses lhe aparecerem.
O submundo traz uma gama de perigos inestimável para aqueles que estão inseridos nele, seja pela sua natureza, seja pela natureza dos indivíduos que se encontram nele, ainda que não se possa identificar se o submundo tem essa natureza devido à preferência desses indivíduos ou se os indivíduos tem essa natureza devido às condições do submundo. O fato é que a natureza dos indivíduos do submundo completam a natureza do submundo e a natureza do submundo forma a natureza dos indivíduos, uma vez que qualquer que seja o indivíduo que, seja por questões físicas, seja por questões psicológicas, não se adéqüe ao submundo e à sua natureza é eliminado por ele de maneira precoce.
No que se trata das relações entre os indivíduos do submundo, o que mais se destaca é a sinceridade, pois, uma vez que somente aqueles que se mostram igualmente ardilosos e/ou perversos atingem o nível de estabelecer relações interpessoais, é natural que se saiba que, o que está em jogo não é o bem estar ou a preservação da vida, mas o mal-estar e a morte alheia, sendo assim, a riqueza de outrem me pertencer e a preservação da minha vida chega até mim de forma secundária, e isto se mostra claro uma vez que se trata de um ideal compartilhado por todos.
A morte não é um mal-estar, uma vez que aquele que morreu não sente nada após a sua morte, mas ela é almejada pelo fato de que se o outro morre, ele não poderá causar mal a um terceiro no qual eu poderia causar. Deste modo, entre a morte e o mal-estar é preferível causar o mal-estar, salvo se o indivíduo causar o mal-estar em meu lugar ou tentar a morte, sendo ela a minha, a dele ou a de outrem, a minha porque me priva de causar o mal, a dele porque desta forma ele escapa do mal que eu lhe causaria e a de outrem, porque me priva de causar o mal a este outrem.
O mal-estar não basta ser qualquer um, ele deve de fato causar danos ao corpo ou à mente do indivíduo de forma a perturbá-lo. Meras ofensas não podem ser consideradas mal-estar, pois dependem do entendimento de outrem para sequer serem compreendidas, assim como a discriminação e o preconceito. Esse tipo de tentativa de mal-estar é tão falho e medíocre que sua frustração, ou seja, o não entendimento, que já confirma o fracasso da tentativa, ou a ignorância quando entendido, faz com que o indivíduo que tentou causar o mal-estar se sinta tão perturbado de modo a ser encarado como o alvo efetivo da própria tentativa de causar mal-estar. Logo, formas tão ineficientes como estas são sempre levadas em conta como feitiços que podem ser voltadas contra o feiticeiro e, portanto, devem ser evitadas.
As mais eficientes formas de mal-estar que podem ser causados o são com danos ao corpo e, uma vez em um meio repleto de conflitos, nada mais palpável do que a utilização de armas muito bem escolhidas.
Bom pessoal, é isso, por hoje é só...
...um grande abraço e uma ótima semana...
...Marmota!

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